ONDE TUDO COMEÇA

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segunda-feira, 22 de junho de 2015




E SEMPRE TEREMOS O INVERNO...

“O poder do Espírito do Inverno é a Renovação, a Sabedoria e o Conhecimento. É o Poder da beleza e da ressonância harmônica. Da imaginação ilimitada e do intelecto. Dos sábios, anciões e ancestrais, das preces e agradecimentos. É o portal da honra. Período em que as coisas parecem estar adormecidas. Contudo, com a aparente dormência, um dos maiores crescimentos está ocorrendo. É quando a atividade exterior diminui efetivamente."
(Portal: templodaluaterapias.blogspot.com.br)


O solstício de inverno já começou no hemisfério sul,  onde vivemos, bem abaixo da linha do Equador. Aqui não cai a neve como lindamente acontece nos países do hemisfério norte, mas dá pra sentir um friozinho diferente no ar. Há um sol que aquece mais brandamente, indo embora mais cedo do céu e chegando um pouco mais tarde no dia seguinte. Daí resultam uma nova pulsação e novos ritmos: as noites ficam mais longas e os dias mais curtos. O tom de azul do céu é de um anil diferente, tem um brilho mais profundo, o por-do-sol é de um avermelhado mais intenso...Com a diminuição do calor, o corpo pede um agasalho ao cair da tarde, um vinhozinho no meio da noite  ao lado de uma boa companhia, um bom papo - pessoas e livros fazem toda a diferença! - e um cobertor e outros aconchegos na hora de dormir... Lareiras acesas caem bem. Fogueiras e piras nos jardins também. 

Inverno é isso acolhimento e recolhimento, busca de agasalho e concentração de energia. Esse movimento se dá muito visível na natureza: as plantas se recolhem, dão menos frutos, algumas perdem suas folhas. Ali tudo está mais recolhido, mais voltado para dentro de si mesmo. É época de interiorização. Momento de reflexão. De voltar o olhar sobre si. Contemplar a própria paisagem interior num processo de auto-exame, autodescoberta.  O movimento é para dentro, o do olhar contemplativo que des-dobra as múltiplas camadas internas em suas múltiplas dimensões. Porque é disso que somos feitos: múltiplas camadas e múltiplas dimensões. Exatamente como nossa terra-mãe que também se compõe de uma crosta terrestre e mais abaixo, placas tectônicas flutuantes sobre uma outra camada, o magma vivo, sempre em movimento e transformação: erupções e atividades vulcânicas, terremotos, tsunamis, maremotos tudo resulta dessa interconexão... Esse todo indissolúvel e intimamente interligado compõe o amálgama que define não só a natureza do planeta, mas a nós também. Porque somos  igualmente assim: seres sistêmicos, um psicossoma, matéria-mente-espírito interligados por uma sutil energia em constante movimento, transformação e transmutação. “Ondas invisíveis de energia percorrem acima e abaixo da superfície da terra, guiadas por forças inteligentes da natureza. O meu corpo não é tão diferente do seu. Sob as camadas de sua pele, músculos e ossos se expandem e contraem, constroem e se reconstroem, executando várias funções ao mesmo tempo. O que orienta o seu corpo a se desenvolver como ele faz? Quem ou o que o instrui a se regenerar, rejuvenescer ou recuperar a sua saúde?” (citado de Luz de Gaia.com.br)

Nossa vida é esse constante transmudar-se ao longo dos inúmeros ciclos por que vamos passando nessa nossa caminhada pelo chão desse planeta, experimentando essa aventura humana. O inverno é ao mesmo tempo fechamento de ciclo e um tempo de espera na circunvolução das mortes e renascimentos ao longo de uma existência na travessia dessa imaginária linha do tempo. Seu silêncio e recolhimento não significam paralisia. Muito pelo contrário. Essa é uma época em que as forças invisíveis da natureza se encontram em intensa e profunda organização, concentrando todas as energias no fortalecimento daquilo que é essencial para a vida se refazer em novas tessituras, por meio de novos fios, compondo novas tramas e fazendo explodir novos desenhos vivos para que tudo se renove. Sementes germinam silenciosas no fundo da terra trazendo a primavera exuberante em flores, folhas e rebentos. 

O inverno precede a primavera e sucede ao outono no constante ciclo de transformações. No outono colhemos os frutos até então plantados, provando de sua doçura ou amargor. O inverno que chega vem encerrando esse ciclo. É hora de re-ciclar, descartar o velho, aquilo que se deseja que vá embora porque já cumpriu sua função e nada mais há a fazer ou, ainda, liberar o que não fluiu, o que ficou para trás e estagnou e provou ser inútil. Momento de introspecção, de avaliação. Uma pausa para meditação. Um tempo mais dilatado... de escuridão, quietude e sonhos. Época de pararmos para avaliar nossas realizações, conquistas e propósitos de vida  e de nos prepararmos para a dádiva maior das mortes e renascimentos em nosso constante refazimento dos ciclos de nossas vidas. Época de compreensão do que fluiu até agora na própria vida, aceitando o que alcançamos ou não. Um tempo de fazermos as pazes diante do que não veio à superfície, não se revelou... um tempo de poder, um tempo de perdão. Um tempo de compaixão por nós mesmos e por tudo a nossa volta. Uma oportunidade para revermos tudo aquilo que aprendemos em nossa vida, com quem e como compartilharmos esta sabedoria. Um tempo de convite à reflexão  sobre as sementes que queremos lançar e vermos germinadas em prol das flores que irão desabrochar e da colheita dos frutos que desejamos saborear. Um tempo-momento-semente de balanço interno de vida e comportamentos e atitudes, ideias e pensamentos, emoções e dimensões espirituais. Momento não só de quietude, imobilidade, silêncio e observação, mas, sobretudo, de percepção e escuta do quanto a escuridão pode ser profundamente fecunda e luminosa.



Seguem abaixo algumas perguntas importantes para esse momento de reflexão interior. 
Procure um lugar tranquilo onde não possa ser interrompida,  sente-se, preste atenção em sua respiração, se preferir, coloque uma música relaxante e fique em silêncio por alguns minutos. Depois, com um papel e uma caneta, responda as perguntas abaixo, prestando atenção ao que está fluindo dentro de você nesse exato momento... 
SINTA!

Perguntas para o solstício de inverno
  1. O que eu quero deixar ir, deixar liberar para renovar?
  2. O que eu quero deixar fluir?
  3. Onde quero colocar meu esforço?
  4. O que quero semear para nutrir-me no futuro?
  5. O que é saudável para mim?
  6. O que é fecundo para mim?
  7. O que me é prejudicial?
  8. Quais sentimentos me invadem e necessitam ser reciclados?
  9. Quais são os velhos padrões de comportamento que quero descartar?
  10. Que novos comportamentos preciso introduzir em minha vida?
  11. O que está faltando, abrindo lacunas em minha vida?
  12. O que preciso fazer para a materizalização de meus sonhos, meus projetos, minhas inquietações daquilo que efetivamente vale a pena porque é saudável e fecundo e quero ver vingar na minha vida, no meu corpo, no meu caminho?

No frio do inverno, finalmente aprendi que dentro de mim existe um insuperável verão.

Albert Camus