O trecho abaixo é do livro Histórias que Curam, de Rachel Naomi Remen, págs. 30 e 31. O título se justifica porque as flores das ameixeiras, no Japão, são as que florescem cedo, ainda em fevereiro, muitas vezes, no inverno até então coberto de neve, sob inclemências e frio. Delicadas, frágeis, suaves, mas... obstinadas!... Elas irrompem dos galhos ainda secos, retorcidos e adormecidos pelo frio, atendendo a um chamado para a vida! E vêm e sobrevivem e revelam sua força, poder, mistério e beleza!
FLORES DE AMEIXEIRA
Acidentes e desastres naturais muitas vezes levam as pessoas a julgar que a vida é frágil. Pela minha experiência, a vida pode mudar abruptamente e terminar sem aviso, mas ela não é frágil. Há uma diferença entre impermanência e fragilidade. Mesmo no nível fisiológico, o corpo é um esquema intricado de controles e contrapesos, elegantes estratégias de sobrevivência sobrepostas a estratégias de sobrevivência, equilíbrios e reequilíbrios. Qualquer pessoa que tenha testemunhado a recuperação de intervenções profundas e invasivas como transplante de medula ou cirurgia cardíaca de peito aberto fica com uma sensação de profundo respeito, quando não de reverência, pela capacidade do corpo para sobreviver. Isso acontece tanto na idade avançada quanto na juventude. Há uma tenacidade no sentido da vida presente em nível intracelular, sem a qual nem mesmo a mais complexa das intervenções médicas teria êxito. O ímpeto de viver é forte até mesmo no mais minúsculo dos seres humanos. Recordo-me de ver, quando um estudante de medicina, um de meus professores colocar o dedo na boca de um recém-nascido e, assim que o bebê o segurou, levantar delicadamente parte de seu corpo da cama graças à força com que a criança sugava.
Essa tenacidade à vida resiste em todos nós, inalterada até o momento de nossa morte.
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