ONDE TUDO COMEÇA

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quarta-feira, 2 de abril de 2014



ADEUS XELODA

A vida é feita de adeuses, também. Minha jornada acompanhada do Xeloda chegou ao fim. Confesso que não lamentei, não chorei, não fiquei triste, não senti arrepios, não caí em depressão, não perdi o sono e nem tive pesadelos. Mas também não dei pulos de alegria. O xeloda é o meu 3º "affair" naquilo que ouso chamar de "romance" com a doença, sem  nada de sentimentos de amor por esse episódio, é claro. (Às vezes, tenho medo das palavras, ainda que proferidas de brincadeira!). Aliás, devo confessar exatamente o contrário: que já odiei a doença, sua recidiva e esse estar novamente na batalha tentando recuperar a saúde e obter a cura do meu corpo físico e emocional. Hoje, estou descobrindo aos pouquinhos, uma maneira nova de olhar esse momento de desarmonia em meu corpo, respeitando sua linguagem e buscando entender seu significado. É um novo olhar. Estou meio que tateando com cautela, curiosidade e respeito nessa zona de sombra e pouca luz ainda sobre a cura da doença. Em meu trajeto, busco um caminho, um entendimento, um aprendizado nessa travessia. Nada aqui é definitivo. Nada aqui é constante. Nada aqui é seguro. Nada aqui tem garantias. A começar, principalmente, pelos meus sentimentos que ora estão serenos e confiantes; ora flutuam, instáveis ao sabor de muitos ventos, tempestades e bonanças ao longo dos dias, semanas e meses. Tem dias em que me sinto ótima, em outros me sinto amedrontada, assustada, insegura... A doença, por sua vez,  revela sua instabilidade. Oscila. Tem humores. Um passo à frente na caminhada e, de repente, dois passos atrás. E há que se ter paciência, persistência e não desistir jamais!

A mudança do Xeloda decorreu não de sua neurotoxidade, mas sim, porque, ao se diminuir a dose para melhor enfrentar os efeitos colaterais do remédio, a droga diminuiu também seus efeito de contenção da doença e o resultado foi um lento, porém progressivo avanço do câncer. Confesso que fiquei surpresa com esse resultado. Achava que estava tudo sob controle. E parecia realmente estar. Mas os exames de imagem revelaram outra coisa.  E assim, a temporada Xeloda chegou ao fim. E com ela também a prisão a que ficaram submetidos meus lindos pezinhos que agora começam a dar sinais de bem-estar e estão me possibilitando voltar a caminhar. Dez meses ao todo de Xeloda. Oito meses afastada da "pista"! Engordei uns quase três quilos! Agora retorno, com todo entusiasmo. Adoro caminhar! Sou uma andarilha. Adoro o barulho dos passos dos meus pés no chão. Adoro sentir o vento fresco da manhã nascente vindo de encontro ao meu rosto e arrepiando-me a pele. Adoro ouvir o canto dos pássaros em algazarra porque o dia nasceu. E admirar as árvores em flor e os jardins das casas em silêncio tecendo estórias e chegar à beira do rio e ver a correnteza fluindo inexoravelmente sob um espelho dágua incendiado pelos raios do sol... Nesses momentos, meu peito se enche de alegria e louvor diante de tantas bênçãos e glórias! Por esse motivo fiquei feliz por abandonar o Xeloda e partir para um outro recomeço. Aposto nesta nova medicação, muito embora, ela também tenhas seus efeitos colaterais. Como todas, aliás!

Estou lendo um livro maravilhoso. O Caminho da Cura, de Marc Ian Barasch. Talvez de todos os livros que li nessa jornada em busca da cura, esse tenha sido o livro que mais está me emocionando. Cada colocação feita pelo autor me toca a alma de uma forma muito especial e me conduz a inúmeras reflexões e revisões de vida, da doença e atitudes em relação a tudo isso. O Caminho da Cura aponta para uma jornada em busca da cura não só física, mas também e sobretudo, uma jornada em busca da cura espiritual. Uma jornada da Alma. Nesse sentido, a visão da doença e a jornada da cura ganham novas perspectivas, assumem novos contornos e adentram outras dimensões. Estou muito sensibilizada pela leitura. Cada frase do livro tem uma sabedoria muito particular de quem passou pela experiência de uma doença grave - no caso dele, também, o câncer -  e essa comunhão levou a uma experiência transformadora. As mensagens ali contidas são tocantes, emocionam e apontam caminhos! É uma leitura mais do que recomendada, é necessária e importante e deve fazer parte do tratamento!


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