ONDE TUDO COMEÇA

ONDE TUDO COMEÇA
ONDE TUDO COMEÇA

domingo, 11 de dezembro de 2016

LIDANDO COM SENTIMENTOS...



Não te preocupes com aquilo que alguém suponha que tenhas que sentir. 
Limita-te a senti-lo. 
Não julgues teus sentimentos. 
Aos sentimentos, não temos que julgá-los. 
Se estás te perguntando o que deves fazer com eles, as melhores pessoas com quem deves falar sobre o assunto são aquelas que verdadeiramente possam te entender; 
que passaram pelo mesmo problema e o enfrentaram com os mesmos sentimentos. 
Onde encontrar essas pessoas? 
Procure um grupo de apoio!
(Bernie Siegel)



Há tempos atrás eu estava me sentindo muito mal nessa fita que já vem rodando há bastante tempo: o tratamento de uma recidiva do câncer. Meus sentimentos oscilavam - e ainda oscilam bastante! - e, entre altos e baixos, eu ora ria, ora chorava. Meu foco estava muito voltado para a doença. Já de manhã, ao acordar, eu me lembrava e me dizia: tenho câncer. Na verdade toda essa angústia era o resultado do aumento dos fatores limitantes e incapacitantes que vinham num crescendo se manifestando fisicamente em meu corpo. Sentir o câncer em seu processo de evolução visivelmente dentro de mim, perceber como ele mudava meu comportamento e disposição, alterava minha energia e me deixava pra baixo era algo que eu não podia negar. Muitas e muitas vezes, num dia lindo de sol, minha vontade era a de não levantar, de ficar ali deitada, sem vontade de abrir os olhos, sem vontade de me mexer. Os pássaros cantavam na manhã nascente, os cães latiam, as flores se abriam no jardim exalando seu perfume, o vento agitava as folhas das árvores, o céu se mostrava azul, ora com nuvens, ora sem e... eu ali, a tudo vendo, porém mergulhada numa tristeza infinita... 

Como sempre, não luto contra isso. Aprendi que essa é a melhor forma de sair da crise. Deixo-me, de certa forma forma, arrastar-me por essa corrente, esse fluxo interminável de sentimentos fluindo confusa e continuamente até que ela naturalmente se esgote e chegue ao fim. Apenas tomo consciência dessa tristeza. Dou-lhe espaço. Deixo que ela se mostre, ganhe forma, textura, cor, perfume, movimento, sabor... Sem julgamentos. O mal estar me incomoda muito. Mas deixo rolar exatamente assim como está, sem procurar nada mudar. O máximo que faço é, em alguns momentos, procurar abrigo para essa tempestade emocional nos livros, nos filmes, na música, em atividades que me dêem prazer e me transportem, como num tapete mágico, para outros mundos, outras dimensões. Outras vezes, me permito fazer apenas o básico para a sobrevivência: comer, me banhar, dormir, descansar... Nesse processo, em alguns dias, me transporto mais lentamente. Em outros, mais rapidamente. Não apresso e nem diminuo o ritmo. Procuro não interferir. Respeito. Fico de observadora. E, sempre que possível, procuro rir da desgraça de alguma forma! Às vezes, consigo. Outras, não! É imprevisível!

Muitas e muitas vezes sinto necessidade de compartilhar com alguém ou em um grupo meus sentimentos. Mas aqui na minha cidade não existe um grupo. E com as pessoas mais chegadas e mais íntimas com quem tentei abrir o coração, poucas foram as que conseguiram se colocar emocionalmente disponíveis numa atitude apenas de escuta e acolhimento, que é tudo o que de fato queremos. 
Como afirma Bernie Siegel:
“Às vezes é difícil compartilhar o que se sente com os membros da família, porque de alguma maneira, querem “curar” a situação. E você tem que lembrar a eles que  quando você expressa raiva ou medo, não está pedindo a eles que o cure e, sim, que estejam ali para apoiar-lhe fisica e emocionalmente, por exemplo, dando-lhe um abraço para que você sinta que fizeram algo mais por você do que simplesmente escutá-lo. “

Então já que não consigo abrir o coração com alguém, desato meus nós comigo mesma: escrevo! Ou então gravo um diário de voz! Ou mesmo um vídeo. E tudo isso me faz muito bem, me lava a alma, me desanuvia, me deixa me sentindo mais leve!

Houve um tempo em que eu me preocupava com aquilo que os outros iam pensar a meu respeito com relação aos sentimentos que brotavam de forma desordenada e que, por vezes, me pareciam inadequados: raiva, medo, ansiedade, frustração, tristeza, angústia... Hoje, abandonei de vez essa inquietação. Pouco a pouco vou me permitindo ser exatamente quem eu sou, sem me preocupar com o que possam pensar de mim a respeito da forma como venho emocionalmente lidando com a doença. Não quero “sábios” conselhos. Quero, sim, um colo que maciamente me acolha e um silêncio que generosamente se abra à minha escuta. Quero um lugar que se mostre amplo e vazio e onde eu possa me aninhar e deixar parir minhas alegrias, tristezas e fantasias, sem me esquecer de que eu sou a especial pessoa que me tira ou me deixa ficar na escuridão!


Nenhum comentário:

Postar um comentário