ONDE TUDO COMEÇA

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quarta-feira, 28 de março de 2012

EU, UMA WICCA, CONTANDO UM POUCO DE MINHA HISTÓRIA À LUZ DO DIA





Na meia-idade, já adentrado o Grande Portal do 50, vivendo uma pós-separação, mas mesmo assim experimentando uma fase tranquila da minha vida e talvez um dos seus momentos mais mágicos; feliz comigo mesma, meu corpo, minha idade; fui surpreendida com o diagnóstico de um câncer de mama. 

A notícia não poderia deixar de fazer seus estragos. Um dos meus lindos seios - e eu sempre tive lindos seios, túrgidos, densos, empinados e altamente elogiados! - o esquerdo, apresentava uma “constelação” de pontos na mamografia indicando ali a presença de células malignas - microcalcificações - espalhadas por toda a parte superior da mama. A  indicação cirúrgica era nada mais nada menos do que: MAS-TEC-TO-MIA!!!! 

Só de ouvir o palavrão, meu corpo inteiro TREMEUUUUU! Entrei em desespero. Quase enlouqueci! Como toda mulher, penso eu. Meu chão se abriu, meu mundo pareceu desabar naquele momento como um castelo de cartas ruindo numa sequência infinita e fora de controle. Foram noites e noites de choro e angústia diante do espelho e muitos e muitos dias de perambulações por diversos consultórios médicos procurando confirmar o tratamento indicado e tentando ver se não haveria uma alternativa menos penosa, menos dilacerante, menos sofrida, menos mutilante! Mas... tudo era nada... Ou seja, eles só faziam confirmar a necessidade da cirurgia indicada!... 

A princípio chorei muito: de raiva, revolta, piedade... Não queria acreditar que a Vida, depois de inúmeras lutas por que  eu havia passado, inúmeras batalhas vencidas, estava agora me “aprontando” mais uma dessas! Depois... engolido o susto, metabolizado o desespero e com mais vagar, passei para uma outra fase: a da negociação. Negociei - ou melhor, propus a Deus, aos Santos, à Virgem Maria, a todos os Anjos e Arcanjos celestes “excelentes negócios” e “interessantíssimos” acordos, do meu ponto de vista, claro!,  que não foram aceitos... Promessas “mis”! Eu cumpriria todas! E tão logo me livrasse da doença, DESDE QUE...  NÃO TIVESSE QUE MUTILAR MEU SEIO! Mas... por mais que  eu orasse e tentasse afastar os “demônios”, o confronto com eles foram inevitáveis. 

Após a cirurgia, me vi aos pedaços. Minha imagem se decompunha, esfacelada em mil espelhos. Era como se mil pedras de riacho a tivessem batido, socado, escalavrado e empurrado despenhadeiro abaixo em águas velozes e vertiginosas...  Uma das poucas coisas que de início me consolava era olhar aquelas mulheres retratadas nos quadros de Picasso. Pela primeira vez me apaixonei perdidamente por aquele homem e por cada uma de suas mulheres com seus rostos tortos, seus corpos deformados, seus contornos alterados... Eu via beleza naquilo porque Eu era aquilo! Eu estava em cada uma delas: torta... desfigurada... com um seio mutilado...e... mesmo assim... enigmática e misteriosamente me sentindo poderosa e linda, ainda que, ao mesmo tempo, destruída!... Acho que pela primeira vez me descobri “fazendo amor” com Picasso. Em meus pensamentos, eu era mais uma mulher a entregar-lhe a alma e meu corpo para o RE-surgimento de uma beleza trans-figurada pelas suas tintas e pincéis...(esta foi uma fase em que eu mesma me pintei muitas vezes, fazendo uso de aquarelas...)


Em meu tratamento do câncer de mama, busco fazer com que o sofrimento seja sempre um “opcional”. Um “acessório”. Para mim, ele não vem “de fábrica”. Ou seja, não faz parte do “pacote do tratamento”, nem está no “contrato de cura”. Em resumo: Eu escolho.! Eu determino! Eu seleciono! Descobri que tenho esse poder dentro de mim. E que posso exercê-lo a qualquer momento nessa luta contra o “dragão abestalhado” que é essa doença chamada câncer, em que células confusas e completamente cegas de inteligência começam a se reproduzir desordenadamente e a se disseminar sem nenhum propósito útil, elevado ou em harmonia com os princípios sagrados da vida.  Nem sempre é um trabalho fácil. Com certeza! Mas quem disse que a vida para ser bela tem que ser fácil???  

A cada dia que amanhece, busco manter meu “astral” nas altas esferas, eliminando de meu ambiente emocional, mental, espiritual e físico todos e quaisquer “miasmas” ou influências negativas! Só ouço o que quero, o que me faz bem, o que me eleva! Só permito que se manifestem em mim poderosas e sagradas forças psíquicas, espirituais e emocionais. 

Resgato em meu corpo, dia a dia, toda a carga de ancestralidade genética de força, coragem, sabedoria e inteligência presentes em cada uma de meus bilhões de células preparadas para o enfrentamento e o combate dessa doença que exige de nós, sobretudo, conhecimento, discernimento, visão e luz. Recuso-me a escuridão proveniente do desespero. Por isso mesmo, me sinto guerreando nas estrelas. 

Digo sempre a mim mesma que meu corpo-mundo pode ter tremido, sofrido abalos, mas não caiu! Seu império ainda continua de pé. E nele eu continuo sendo a deusa-rainha-bruxa-feiticeira-guerreira, sua amante e ele meu mais fiel espelho e companheiro de gozos, sonhos, luares e manhãs luminosas! 

Às, vezes, nesse contemplar da beleza, em fúria as lágrimas vêm, bem como uma certa tristeza, um resquício da dor... Deixo-as fluir. Fazem parte do meu processo de cura. Assim como as inúmeras e sonoras gargalhadas que de dentro de mim brotam e ecoam pelos espaços afora! 

Permito-me ir do choro ao riso aberto, franco, escancarado sem o menor pudor! Permito-me vibrar de prazer, orgasticamente sentindo a vida pulsar dentro de mim, na minha púbis, no meu ventre aberto ao gozo e às pulsações típicas de  minhas estações de vida... Vejo, toco, sinto, cheiro, acaricio, provo, saboreio, ouço, tateio... ESTOU VIVA!!! A tudo a minha volta que se traduza como fonte de vida, luz, calor, cura, saúde, alegria, amor procuro acolher... Por isso mesmo vibro, canto, danço, faço arte... muitas artes! Sou uma mulher “arteira”. 

Nem tudo é lindo todo dia... nem tudo é maravilhoso... Agora mesmo, em 2012, oito anos depois, fui surpreendida com uma recidiva. Não era para ter acontecido, mas aconteceu...  Mas quem pensar que o caminho para o despertar dentro de si do xamã ou da xamanisa algum dia foi pavimentado de pedrinhas de brilhantes e noites enluaradas, precisa, urgentemente, refazer seus conceitos! É um caminho conquistado passo-a-passo, palmo-a-palmo, na escuridão, enfrentando dragões e bestas ferozes com determinação e encarando os medos, que, inevitavelmente, fazem parte da jornada! Nesse emprendimento, ele/ela nunca estão sozinhos. Há sempre forças divinas e espirituais os guiando e auxiliando. Se me perguntarem se eu realmente acredito nisto que estou dizendo aqui, se não são artifícios de minha fantasia, minha resposta é: EXPERIMENTE VIVENCIAR ISTO NO SEU DIA-A-DIA! E depois... confira os resultados...


Consta que Albert Schweitzer disse certa vez: "O feiticeiro tem êxito pela mesma razão que todos nós  [médicos] temos êxito. Cada paciente leva seu próprio médico dentro de si. Esse paciente nos procura sem saber dessa verdade. O melhor que fazemos é dar ao médico que reside dentro de cada paciente a chance de trabalhar". (O Caminho do Xamã, Michael Harner, pág. 203, Cultrix, 1995)

Considero-me uma pessoa feliz! Meu corpo é belo, meu corpo é bom, meu corpo é sábio, meu corpo é inteligente! Ele está saudável  agora e ao meu dispor! Com ele amo, beijo, abraço, danço, como, durmo, gozo... sinto prazer! E POR ISSO MESMO ELE MERECE VIVER! 





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